Os planos da SAP para levar inovações de startups a seus clientes

Os planos da SAP para levar inovações de startups a seus clientes


Carla Matsu 29 de Setembro de 2016 - 15h50


Manju Bansal, vice-presidente da alemã, fala sobre o relacionamento da companhia com o ecossistema de pequenas empresas digitais

Startups têm sido a menina dos olhos de grandes companhias de tecnologia nos últimos anos. Prova disso é que gigantes como a SAP, Google, Apple e Microsoft têm dedicado atenção especial a elas em um relacionamento próximo que tende beneficiar ambas as partes. Ao se aproximarem de startups, empresas sólidas buscam acelerar ciclos de inovação enquanto jovens empresas ganham maior resistência para escalar suas soluções digitais no mercado.

Para Manju Bansal, vice-presidente do programa global SAP Startup Focus, startups têm desempenhado um papel-chave para manter grandes companhias competitivas.

“Inovação é algo vital em qualquer companhia de software. Na SAP, nós inovamos assim como nossos parceiros mais próximos. Mas há tanta inovação acontecendo no mundo das startups que temos que encontrar uma forma de aproveitar isso e trazer aos nossos clientes”, explica em entrevista a Computerworld Brasil durante a SAP Spotlight Tour, evento para imprensa realizado em Palo Alto (CA).

Do outro lado, startups vêm na experiência de grandes companhias um caminho mais rápido para se apresentarem ao mercado.

“Clientes como Siemens, Procter & Gamble ou GE, qualquer um desses caras grandes não vão comprar de uma empresa de dez pessoas, não funciona assim. Mas somos aqueles que podem criar essa ponte industrial entre startups, fazendo com que a inovação delas também dê certo em nossa tecnologia, em algo que nossos clientes já investiram. E isso é uma bela combinação.

A maneira como gostamos de pensar é que somos os curadores para as trajetórias da tecnologia de nossos clientes, nós fornecemos a grande maioria do software nós mesmos, mas se de uma maneira ou outra não pudermos, vamos encontrar o convidado perfeito para isso e startups se tornaram uma escolha muito óbvia porque a vanguarda da inovação está acontecendo no mundo delas”, analisa Bansal.

Criado em 2012, o SAP Startup Focus é o braço da companhia dedicado a acelerar empresas em estágio inicial. A iniciativa auxilia startups a desenvolverem soluções em big data, IoT (Internet das Coisas), análise preditiva e em tempo real a partir da SAP Hana, plataforma de banco de dados em memória da multinacional alemã.

Até então, o programa já apoiou mais de 3.400 startups em 57 países. No Brasil, a iniciativa tem endereço fixo desde 2015 no SAP Labs Latin America, em São Leopoldo (RS). E, diferente de outras iniciativas similares, a SAP oferece mentoria e acesso às suas tecnologias sem custo aos empreendedores, ou seja, não adquire participação nas empresas. As startups que “se graduaram” no programa já são responsáveis por 235 soluções validadas pela SAP.

O executivo fala com entusiasmo do universo das startups e defende que muitas das soluções vistas inicialmente com vocação para o público consumidor têm encontrado espaço no universo corporativo. A realidade aumentada é uma delas.

A startup Blippar, baseada em Londres, criou um aplicativo cujo objetivo é transformar "todas as coisas do mundo em um imenso catálogo digital e interativo". Em resumo, o usuário que tiver o app instalado precisa apontar a câmera do seu smartphone para um objeto e a ferramenta dará uma série de informações dispostas em sua base de dados. Aponte para uma maçã, por exemplo, e o Blippar trará informações a respeito de calorias, nutrientes, origem e afins.

Por trás do aplicativo, a tecnologia recorre a visão computacional e aprendizado de máquina para reconhecer objetos do mundo real. A Blippar defende que sua ferramenta já atingiu nível de sofisticação que permite diferenciar até mesmo espécies de plantas, flores e raças de cachorro.

Quando chegou ao mercado em 2011 pelo seu fundador e CEO Ambarish Mitra, a startup firmou parcerias com grandes marcas como Unilever, Coca-Cola, Heinz e Nestlé para fins de publicidade e mídia. Agora, a empresa se prepara para ampliar a vocação da tecnologia também no ambiente corporativo.

A startup tem trabalhado com a SAP, integrando os dados coletados da interação com o mundo real na plataforma Hana. Entre os propósitos da parceria está o uso da tecnologia para interpretar o comportamento de consumidores no varejo.

“A Blippar começou como uma agência que prometia escanear qualquer coisa, uma garrafa de coca-cola, por exemplo, mostrando em 3D o que é esta coisa em questão. Você pode até achar isso meramente interessante. Mas imagine se você for a Nike. Ao entrar numa loja deles, você pode então digitalizar um produto com o Blippar e ele te dará todas as informações sobre ele. Isso é negócio”, ressalta Bansal.

Outra startup convidada do SAP Spotlight Tour, a norte-americana Meta Vision tem também destacado a vocação da realidade aumentada para o ambiente corporativo.

Em 2013, a startup se apresentou ao mercado por meio de campanha de financiamento coletivo no Kickstarter, conseguindo arrecadar US$ 194 mil, superando a meta inicial de US$ 100 mil. Na ocasião, os empreendedores levantaram fundos para a primeira versão do Meta 1 para desenvolvedores.

O Meta é um óculos de realidade aumentada, cujo hardware e software próprios permitem que o usuário se insira e interaja em situações virtuais “conectadas” em ambientes reais. A ferramenta permite que o usuário manipule elementos virtuais com gestos e outros movimentos no ambiente real.

A startup diz usar motores ópticos avançados ao lado de interface de design baseada em neurociência. Recentemente levantou US$ 50 milhões em rodada de investimento série B. Até então, conta com uma comunidade de mil desenvolvedores e companhias que já usam seu dispositivo.

Para Bansal, a ideia é que acessórios como o Meta proporcionarão uma nova forma de conduzir negócios em uma ampla gama de indústrias.

“Você poderia olhar para esses óculos e achar ‘quem se importa, isso é um brinquedo’. Mas imagine um mecânico consertando algo em um avião, onde você precisará de ambas as mãos livres e ainda de instruções dadas em um fone de ouvido e uma tela em realidade aumentada. Então, de repente a qualidade do trabalho e a sua eficiência mudam. E isso é algo bonito, não se trata de mais um brinquedo”, ressalta.

De fato, a realidade aumentada já tem estado no radar de empresas como a Boeing e a agência espacial NASA. No primeiro caso, a companhia anunciou neste ano programa piloto para usar o Google Glass na fabricação de aviões. Já a NASA recorrerá ao HoloLens, da Microsoft, para auxiliar astronautas em reparos na Estação Espacial Internacional.

O óculos da Meta Mine reserva semelhanças ao modelo da concorrente Microsoft. No entanto, a Meta Vision defende que sua tecnologia consegue superar quatro vezes o campo de visão do HoloLens e o faz com uma economia significativa de preço. No caso, um terço do valor. Enquanto o HoloLens foi lançado por US$ 3 mil, o Meta está disponível para pré-pedidos por US$ 949. Nos dois modelos, o foco inicial das empresas é a comunidade de desenvolvedores.

“Entregamos o Meta com um terço do valor do HoloLens e fizemos isso por um propósito. A questão não é sobre fazer dinheiro agora, claro, estamos felizes em ganhar dinheiro, mas o importante agora é fazer com que o ecossistema cresça, que a adoção aumente e chegue nas mãos de visionários que criarão os aplicativos que farão com que você deseje isso”, defende Ryan Pamplin, vice-presidente da Meta Vision. “Se isso não acontecer é só mais um ciclo hype e não vai funcionar”, completa.

Para o empreendedor, ampliar a vocação da tecnologia seja para o mercado consumidor e corporativo, atentando as suas variadas verticais, garantirá a adoção da realidade aumentada em larga escala. “Temos que focar em aplicações e ferramentas gerais para que um dia essa plataforma consiga substituir o seu telefone ou o computador onde você trabalha ou assiste Netflix”, completa. Uma versão voltada para o consumidor final do Meta ainda está para ser lançada nos próximos anos.

Startups rentáveis


A SAP também tem dedicado um fundo de investimento exclusivo a startups. Fundado em 1996, o SAP Ventures passou por reformulação em 2011 quando se lançou como Sapphire Ventures, com o objetivo de se tornar uma empresa independente. Apesar disso, a fabricante de software alemã se mantém como a única a fornecer aporte.

Recentemente o fundo anunciou um total de US$ 1 bilhão para investimento em novos projetos, dedicados a startups em fase de crescimento. Com o novo caixa, a SAP garante um total de US$ 2,4 bilhões destinados a investimentos de risco em startups.

A companhia busca startups que estejam em fase de expansão, porém promete também abraçar startups em fase inicial, além de outros fundos de capital de risco em estágio inicial.

Ao mesmo tempo, o fundo reforça a perspectiva de um relacionamento a longo prazo da multinacional alemã com startups. E com destaque a países emergentes, entre eles o Brasil. Segundo Bansal, o Brasil está em quarto lugar no ranking de startups com soluções validadas pela SAP, ficando atrás dos Estados Unidos, Índia e Alemanha.

“Nós fechamos acordos onde startups estão abrindo portas para nós, também estamos fechando negócios que não seriam fechados não fossem essa parte que faltava e que uma startup está fornecendo. De diferentes formas, nós estamos juntos. E eu penso que é bom ter competição por que startups estão sempre crescendo de forma rápida e estão mudando e isso mantém a SAP no lugar certo”, conclui Bansal.

*A jornalista viajou aos Estados Unidos a convite da SAP.
Fonte: http://computerworld.com.br/os-planos-da-sap-para-levar-inovacoes-de-startups-seus-clientes
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